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Modelo de Tratamento

O Modelo teórico utilizado é o Modelo Minnesota que consiste num modelo psicoterapêutico de origem humanista cujo objetivo final é a abstinência total do consumo de substâncias psicoativas, capazes de provocar modificações do estado de humor e comportamento do indivíduo.

Segundo este modelo de tratamento a Dependência Química é uma doença crónica progressiva e fatal, estando as suas características definidas pela Organização Mundial de Saúde. Sendo esta uma doença multifacetada, torna-se fundamental uma abordagem multidisciplinar.

O Modelo Minnesota aplica o programa dos 12 passos dos Narcóticos Anónimos para o qual, mais importante que a causa, são os objetivos de recuperação. O poder da experiência espiritual para a recuperação através dos grupos de auto-ajuda, assume um papel fundamental na abordagem “ Se o outro consegue eu também consigo”.

Com este tratamento pretende-se que o indivíduo leve a cabo uma alteração do seu estilo de vida, para que se torne capaz de adquirir autonomia, capacidade de decisão baseada na liberdade e responsabilidade bem como atingir o equilíbrio entre os desejos, os sentimentos e o seu pensamento e a capacidade de eleger e tomar decisões. Para tal é necessário desenvolver competências para lidar com o quotidiano, estimular a capacidade de tolerância à frustração, fomentar capacidades de relacionamento interpessoal, promover a auto-estima, modificar hábitos de conduta e prevenir sintomas de recaída.

O Plano de tratamento para toxicodependentes e alcoólicos que estejam a realizar o seu primeiro tratamento Minnesota tem uma duração de 6 meses e está dividido em duas fases, cada uma delas com a duração de 3 meses. Numa primeira fase são abordadas questões relacionadas com o conhecimento da doença, identificação das características da doença, trabalho espiritual, identificação das qualidades. Na segunda fase do tratamento são trabalhados os bloqueios à recuperação, o processo da tomada de decisão, a compreensão das fases de um processo de recaída, promoção da auto-estima e auto-conhecimento e desenvolvem-se competências para lidar com a vergonha e o medo.

 

 

O plano de tratamentos para utentes recaídos no programa, tem a duração de 3 meses. Neste caso os utentes iniciam o seu percurso na segunda fase do plano geral. Trabalha-se mais intensamente o processo de recaída e os fatores que estiveram na génese da mesma.

Trabalhamos planos específicos de tratamento, para alcoólicos, menores e para utentes de longa duração, todos eles baseados no modelo geral mas com as devidas adaptações às especificidades de cada uma das populações-alvo.

 

Metodologias

As metodologias utilizadas são várias sendo que a principal são os doze passos, metodologia na qual assenta todo o esquema terapêutico. Para além desta utilizamos também algumas técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental. Faremos agora uma breve abordagem a cada uma das metodologias.

 

Doze Passos

A premissa dos doze passos assenta na ajuda mútua entre pessoas com o mesmo problema. Através da partilha o indivíduo tem a possibilidade de se identificar e encontrar nos outros uma ajuda para os seus problemas. Percebe que existem outras pessoas com as mesmas dificuldades e descobre formas de encarar e resolver os seus problemas.

Em comunidade, esta partilha de experiências decorre nos grupos terapêuticos de auto-ajuda, mediados por um psicólogo.

Na primeira fase do tratamento os utentes têm temas específicos para partilhar que são atribuídos quinzenalmente na mudança de objetivos. O tema a partilhar é atribuído tendo em conta as dificuldades sentidas para cada elemento ao longo da quinzena anterior.

Os passos surgem a pautar temporalmente o plano de tratamento, sendo que em comunidade apenas se fazem os cinco primeiros passos. Estes passos fazem então parte da grelha dos trabalhos escritos e são uma importante componente deste modelo de tratamento.

O objetivo dos trabalhos escritos é ajudar o utente a tomar conhecimento das características da doença bem como de formas de agir e pensar inerentes á mesma. Ao fazer a leitura dos trabalhos e respetivos questionários, proporciona-se aos utentes um momento de reflexão individual.   

Os mini-grupos, é outra das técnicas utilizadas. São grupos constituídos por apenas 3 / 4 utentes com uma duração de 15/20 minutos. O objetivo é que um dos utentes faça um pedido de ajuda para um assunto em concreto e os restantes elementos ajudem com um feedback objetivo e concreto. Através dos mini-grupos os utentes desconstroem falsas crenças e treinam o pedido de ajuda para que não tomem decisões precipitadas sozinhos, por vezes tão fatais na fase de reinserção.

Durante o tratamento os utentes vão recebendo também informação teórica acerca da doença, veiculada através de Palestras informativas. Existem duas grelhas de palestras, uma destinada a utentes de primeira fase na qual os temas abordados estão mais diretamente relacionados com o conceito de doença e outra destinada á segunda fase onde os temas abordados têm um maior foco no processo de recaída bem como, na própria abstinência.

A terapia ocupacional é utilizada neste programa de tratamento com a finalidade de incutir no utente o sentido de responsabilidade, ritmo de trabalho, cumprimento de horários, valorização pessoal e hábitos de higiene. Existe uma escala de serviço na qual estão distribuídas as várias tarefas de limpeza e manutenção da casa. Para cada tarefa existe um responsável. Todos os dias as equipas têm uma tarefa diferente que obriga ao cumprimento de diferentes horários e funções. Cada responsável de tarefa tem a obrigação de verificar se a tarefa foi concluída com sucesso.

As terapias ocupacionais são um instrumento de trabalho com muita utilidade terapêutica, pois os principais traços de personalidade dos utentes tornam-se bem visíveis ao realizarem as tarefas mediante as regras da casa e também pelo fato de terem que o fazer em concordância com o seu parceiro.

Os momentos de lazer individual ajudam o utente a aprender a lidar consigo próprio e com os outros sem qualquer alterador de mente bem como a colmatar uma dificuldade bastante referida por eles, que é “o que fazer com os espaços mortos do dia”. Ao nível do lazer de grupo é pedido aos utentes que em conjunto elaborem um plano de atividades para os fins-de-semana. A elaboração deste plano de atividades é bastante importante do ponto de vista da dinâmica do grupo, pois o grupo como um todo tem que chegar a um consenso sobre as atividades a realizar.

O After-Care permite ao utente fazer uma transição progressiva e acompanhada para o exterior. Após ter terminado tratamento, o utente durante o primeiro mês vai duas vezes por semana para a comunidade, com o objetivo de partilhar as primeiras dificuldades e receber ajuda do grupo e terapeuta. O After-Care apesar de ter esta estrutura base, é ajustado de acordo com o plano de inserção de cada utente.

 

Terapia Cognitivo-comportamental

A Terapia cognitivo-comportamental é outra das metodologias utilizadas, que tem como objetivo impulsionar o utente a reconhecer as situações em que se sente mais vulnerável aos consumos e a evitá-las, bem como a enfrentar eficazmente todos os problemas relacionados com os consumos, quer sejam eles de origem interna ou externa.

A Analise funcional é uma das técnicas utilizadas na terapia cognitivo-comportamental e tem como finalidade a análise dos episódios de consumo, com vista a identificar os fatores de recaída e a determinar estratégias de combate aos mesmos. Esta técnica é fundamental na prevenção da recaída.

Salientamos também o Treino de Eficácia no coping, tendo em conta que as respostas emocionais a situações dolorosas são desadaptadas, esta técnica propõe exatamente o treino de novos hábitos e de estratégias menos dolorosas e mais adaptadas.

A Entrevista Motivacional é uma técnica que coloca o utente perante a ambivalência dos aspetos positivos e negativos dos consumos, através da aliança terapêutica o utente vai-se orientando e motivando no sentido da mudança.